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Uretrite, orquite, epididimite e prostatite

Por Dr. Murilo Oliveira

Uretrite, orquite, epididimite e prostatite são processos inflamatórios nos órgãos do sistema reprodutor masculino, geralmente decorrentes de infecções genitais. Existem duas razões para você e seu parceiro se preocuparem com essas doenças: são possíveis causas de infertilidade; o tratamento é necessário para evitar a transmissão dos patógenos, em casos de infecção ativa.

Precisamos dar mais foco às causas masculinas de infertilidade e conscientizar as pessoas de que tanto a mulher quanto o homem podem ser inférteis. Isso porque ainda é comum os problemas femininos serem mais ressaltados. 

Quando um casal chega à primeira consulta com o especialista em medicina reprodutiva, a mulher costuma estar mais apreensiva por pensar que “a culpa” pode ser dela. Esse é um pensamento que precisa ser reformulado, pois quando ambos estão dispostos a passar pela avaliação e aceitar os resultados, temos mais chances de encontrar os fatores que estão dificultando a gravidez.

Aliás, não existem culpados, ninguém é infértil por escolha. Felizmente, existem formas de superar a infertilidade, inclusive nos casos de uretrite, orquite, epididimite e prostatite.

Tipos e causas das inflamações genitais masculinas

Uretrite, orquite, epididimite e prostatite são inflamações provocadas, em sua maioria, por agentes infecciosos, entre os quais estão: 

  • bactérias causadoras de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), principalmente gonorreia e clamídia;
  • bactérias encontradas no trato gastrointestinal, como Escherichia coli e Staphylococcus.

Essas doenças podem ser agudas ou crônicas, assintomáticas ou com sintomas. Saiba um pouco mais sobre as causas e características de cada uma:

Uretrite

A uretra é um tubo do trato geniturinário por onde saem a urina e o sêmen. A inflamação desse órgão é chamada de uretrite. A doença é classificada como gonocócica e não gonocócica, de acordo com suas causas.

A bactéria Neisseria gonorrhoeae, causadora da gonorreia, é o principal agente etiológico dessa inflamação. Nesse caso, é classificada como uretrite gonocócica. Na doença não gonocócica, a Chlamydia trachomatis, bactéria que causa a infecção por clamídia, é a causa mais frequente.

Outros microrganismos encontrados na uretrite não gonocócica são: Trichomonas vaginalis, protozoário causador de tricomoníase; vírus Herpes Simplex e Mycoplasma genitalium.

Também existe a uretrite que não é causada por microrganismos. Quando não tem origem infecciosa, a inflamação pode resultar de irritação por determinados produtos ou traumas que ocorrem, por exemplo, com a instrumentação uretral.

Em casos graves, a inflamação provoca a formação de fibrose no canal uretral. Uma consequência disso é a obstrução ejaculatória. 

Orquite

A orquite é a inflamação dos testículos, que pode ocorrer apenas de um ou de ambos os lados. Os testículos são as gônadas masculinas, os órgãos que produzem o hormônio testosterona e os espermatozoides.

A principal causa de orquite é a caxumba e os jovens são mais acometidos. Adultos que não foram vacinados na infância também têm risco de contrair o vírus.

O homem que teve caxumba pode ter alterações na produção ou na qualidade dos espermatozoides, mesmo anos depois de ter tido a doença. Um espermograma pode revelar baixa contagem e problemas relacionados à motilidade ou à morfologia espermática.

Além da caxumba, a orquite pode ter diversas causas, bacterianas ou virais, incluindo: clamídia, gonorreia, sífilis, E. coli, rubéola, varicela, entre outras.

Epididimite

Os epidídimos ficam atrás dos testículos, são tubos que armazenam os espermatozoides durante o processo de amadurecimento e aquisição de motilidade. A epididimite é a inflamação dos epidídimos, e quando também atinge os testículos é chamada de orquiepididimite.

Em homens com menos de 39 anos, clamídia e gonorreia são as causas mais frequentes de epididimite. Acima dessa faixa etária, as bactérias que comumente causam infecções nos tratos gastrintestinal e geniturinário podem desencadear a inflamação nos epidídimos.

Os espermatozoides precisam percorrer um trajeto no trato reprodutivo masculino: depois de maduros, eles saem dos epidídimos, são transportados pelos ductos deferentes e se juntam às secreções da próstata e das vesículas seminais para constituir o sêmen e serem ejaculados. 

A infertilidade associada à epididimite se deve à presença de tecido cicatricial que causa obstrução no início do trajeto. Nessa condição, chamada azoospermia, o sêmen é normalmente ejaculado, mas não contém espermatozoides, visto que os gametas ficam presos no trato reprodutivo.

Prostatite

A inflamação da próstata é chamada de prostatite. Muitas vezes, as causas dessa doença são desconhecidas. Quando há agentes infecciosos envolvidos, podem ser encontrados: Staphylococcus, E. coli, Enterococcus e outras bactérias.

A próstata é uma das glândulas acessórias, localiza-se na frente do reto, abaixo da bexiga e abrange a parte superior da uretra. É função da próstata secretar o fluído que compõe o sêmen, junto com os espermatozoides e as secreções das outras glândulas.

A prostatite é associada à infertilidade devido a prejuízos na microcirculação da glândula, autoimunidade e outros fatores que alteram a produção do líquido prostático, importante para nutrir os espermatozoides. Além disso, alterações na próstata estão relacionadas a disfunções sexuais e ejaculatórias.

Sintomas das infecções genitais

Os sintomas das infecções genitais dependem do tipo e da causa. As manifestações ocorrem na fase aguda da doença e duram algumas semanas. Já as condições crônicas e as sequelas de inflamações geralmente são assintomáticas.

Na uretrite, o sintoma mais comum é a secreção uretral purulenta. Outras manifestações possíveis são coceira, dor e ardor para urinar e ulcerações.

A orquite associada à caxumba pode provocar dor e inchaço nos testículos, febre e mal-estar. Após a remissão dos sintomas, há o risco de atrofia testicular.

Os sintomas de epididimite incluem dor e inchaço escrotal, secreção peniana e alterações urinárias, como incontinência ou sensação de urgência para urinar, micção dolorosa e frequente.

A prostatite também pode causar as alterações urinárias citadas, além de sintomas obstrutivos, como fluxo lento e reduzido. Dores na pelve, nas regiões genital, perineal e suprapúbica, também podem ocorrer. Outros sinais de inflamação na próstata são disfunção erétil e ejaculação precoce.

Investigação diagnóstica

Um dos pilares da investigação da infertilidade conjugal é a avaliação do trajeto dos gametas. Precisamos avaliar se os espermatozoides conseguem sair do trato genital masculino e migrar pelo trato reprodutivo feminino até chegar ao local da fertilização do óvulo. Dessa forma, podemos identificar, por exemplo, se existem obstruções decorrentes das infecções genitais.

A avaliação clínica aprofundada, para conhecer o histórico médico do paciente e outras informações, é o primeiro passo dessa investigação. O exame físico também pode ajudar na identificação de alterações mais evidentes, como atrofia testicular ou presença de secreção.

Os exames laboratoriais, feitos a partir de urocultura e esfregaço uretral, são necessários para analisar a presença de microrganismos infecciosos. Já os exames de imagem, como o ultrassom escrotal, nem sempre são solicitados, mas também podem ser úteis para o diagnóstico dependendo da suspeita clínica.

O espermograma, por sua vez, não é um exame para o diagnóstico de uretrite, orquite, epididimite ou prostatite, mas é necessário para avaliar os parâmetros seminais, que podem ser alterados por essas doenças.

Vale reforçar dois pontos fundamentais na investigação da infertilidade: tanto o homem quanto a mulher devem ser examinados, independentemente da suspeita médica inicial, pois ambos podem ter fatores que precisam de atenção; a investigação e o tratamento são individualizados, com base na história e nas características de cada casal.

Tratamento de uretrite, orquite, epididimite e prostatite

As infecções são tratadas com antibióticos ou antivirais, prescritos a partir da identificação dos patógenos envolvidos. Para alívio dos sintomas, em caso de inflamação aguda, também podem ser utilizados medicamentos anti-inflamatórios e analgésicos, além de medidas complementares, como aplicação de compressas e uso de suporte para elevação da bolsa testicular.

Como vimos, uretrite, orquite, epididimite e prostatite podem prejudicar a produção, a qualidade ou o transporte dos espermatozoides, levando à infertilidade masculina.

Os processos inflamatórios provocam o aumento de espécies reativas de oxigênio, que afetam o epitélio germinativo e causam danos celulares devido a alterações imunológicas e redução do fluxo sanguíneo local. Além disso, as inflamações do trato genital masculino podem causar formação de tecido cicatricial que obstrui o trajeto dos espermatozoides, impedindo que eles sejam ejaculados.

Quando tratada precocemente, o risco de a infecção deixar sequelas é baixo. Já o atraso no diagnóstico e no tratamento de doenças como uretrite, orquite, epididimite e prostatite pode ter consequências na fertilidade.

O casal com dificuldades para engravidar pode contar com as técnicas de reprodução humana assistida. Diante de fatores masculinos graves, a fertilização in vitro (FIV) com injeção intracitoplasmática de espermatozoide (ICSI) é uma importante opção.

Sabemos que, quando se trata de infertilidade, o homem tem mais resistência a ser avaliado e aceitar o resultado quando o fator está nele. No entanto, com o acompanhamento de um médico especialista — com experiência clínica e pessoal em infertilidade masculina —, você e seu parceiro podem encontrar mais confiança para seguir essa jornada e chegar ao objetivo de construir sua família.