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Transferência de embriões congelados

Por Dr. Murilo Oliveira

A primeira fertilização in vitro (FIV) bem-sucedida foi realizada em 1978. Os óvulos foram coletados dos ovários, fertilizados em laboratório e os embriões foram transferidos a fresco (no mesmo ciclo em que foram gerados). Anos depois, surgiu uma nova possibilidade na reprodução humana assistida: a transferência de embriões congelados.

Desde a primeira FIV, milhões de crianças já nasceram dessa forma no mundo todo, com o auxílio da medicina reprodutiva. Seja com a transferência de embriões congelados ou a fresco, é possível ter uma gestação saudável.

Não é somente o protocolo de transferência embrionária que define o sucesso da FIV. Os fatores que mais influenciam os resultados positivos são: idade materna, quantidade de óvulos coletados, qualidade dos gametas/embriões e receptividade uterina. Com individualização das técnicas, após avaliação aprofundada do casal, é possível planejar um tratamento que leve ao objetivo de gravidez.

Situações em que a transferência de embriões congelados é indicada

Os embriões eram transferidos principalmente a fresco nos primeiros tratamentos com FIV. Nos últimos anos, com os avanços nas técnicas de congelamento, a transferência de embriões congelados passou a ser feita com frequência e trazendo bons resultados.

Os dois tipos de transferência podem ser igualmente bem-sucedidos. Há situações específicas em que os embriões são transferidos após congelamento, incluindo:

Preservação da fertilidade

A preservação da fertilidade pode ser feita com o congelamento de gametas ou embriões. Seja por motivo médicos, como indicação para tratamentos oncológicos, seja pela decisão pessoal de adiar os planos de gravidez, os embriões podem ser gerados e congelados para uso futuro. 

Embriões excedentes

Segundo as normas éticas do Conselho Federal de Medicina (CFM), há um limite no número de embriões que podem ser transferidos, de acordo com a idade materna. Isso é importante para evitar gravidez múltipla. Em alguns casos, inclusive, sugerimos transferir somente um embrião por tentativa, mas essa decisão é sempre individualizada e compartilhada, levando em consideração a saúde e potenciais riscos que envolvem a futura mamãe e o bebê.

Sendo assim, é comum sobrarem embriões que foram gerados a mais que o permitido para a transferência em um ciclo. Esses embriões excedentes são congelados e podem ser utilizados futuramente para uma nova tentativa de gravidez ou para a tentativa de um irmãozinho no futuro.

Risco de síndrome do hiperestímulo ovariano (SHO)

A estimulação ovariana, realizada com medicações hormonais no início da FIV, pode causar resposta exacerbada em algumas mulheres. Nessa situação, há o risco de síndrome da hiperestimulação ovariana, que pode colocar a saúde da mulher em risco, além de provocar um desequilíbrio hormonal e afetar a receptividade uterina da paciente. Nós sempre utilizamos protocolos que reduzam ao máximo o risco do desenvolvimento dessa síndrome.

Quando isso acontece, indicamos o congelamento de todos os embriões (freeze-all) para que a mulher tenha tempo de normalizar seus níveis hormonais e melhorar as condições do útero para receber os embriões que foram congelados.

Realização do teste genético pré-implantacional (PGT)

O teste genético pré-implantacional (PGT) envolve um conjunto de análises das células embrionárias para verificar se existem alterações gênicas ou cromossômicas. Diante da indicação e realização desse teste, pode ser necessário congelar os embriões, enquanto aguardamos o resultado das análises. Assim, os embriões saudáveis (sem anormalidades genéticas) são descongelados posteriormente e transferidos para o útero.

Etapas e procedimentos para o congelamento de embriões

Para chegar à formação de embriões congelados, é realizado todo o passo a passo da FIV. A primeira etapa é a estimulação dos ovários com hormônios que aumentam a quantidade de óvulos que se desenvolvem e amadurecem.

Ao atingirem o tamanho ideal, os óvulos são estimulados ao estágio de maturação final e, pouco antes da ovulação, são coletados. Também é feita a coleta do sêmen nessa etapa e o preparo seminal.

Em seguida, os óvulos são fecundados utilizando a injeção intracitoplasmática de espermatozoide (ICSI). Os embriões são monitorados em incubadora de alta tecnologia até o estágio de blastocisto, com 5 a 7 dias de desenvolvimento. 

Depois de todas essas etapas, os embriões são congelados e assim podem permanecer por vários anos. A técnica de congelamento utilizada atualmente é a vitrificação, que permite o congelamento ultrarrápido, sem prejuízos celulares. Dessa forma, as taxas de sobrevida dos embriões são superiores se compararmos com os resultados do congelamento lento, que era mais utilizado em décadas passadas.

Etapas e procedimentos da transferência de embriões congelados

Uma vez tendo embriões congelados, a paciente/casal podem ter a oportunidade de tentar a gravidez sem ter que passar pela estimulação ovariana e coleta de óvulos.

Quando o casal decidir tentar a gravidez, os embriões são descongelados em um processo inverso ao da vitrificação. Eles passam por reaquecimento, são avaliados quanto à vitalidade e à viabilidade e são transferidos para o útero.

Existem três protocolos principais de preparo uterino para receber esses embriões:

  1. Ciclo natural

Acompanhamos com ultrassonografia o ciclo natural da mulher, respeitando a sua evolução. Observamos a sincronia do desenvolvimento do folículo dominante e o aspecto endometrial. Quando temos um folículo dominante, utilizamos uma medicação à base de hCG para promover a ovulação e iniciamos uma suplementação de suporte com progesterona (suporte de fase lútea). O momento da transferência embrionária pode ocorrer de 5 a 7 dias após o uso do hCG, momento que o embrião chegaria naturalmente ao útero, se fosse formado no organismo da mulher.

O grande benefício desse ciclo é a menor intervenção no organismo da mulher e o uso de menores quantidades de medicações hormonais.

  1. Ciclo natural modificado

Nessa modalidade, precisamos induzir o processo ovulatório da mulher com medicações hormonais orais e/ou injetáveis em baixa dose. Todo o acompanhamento adicional é similar ao ciclo natural.

As mulheres que se beneficiam predominantemente dessa modalidade são as mulheres que têm ciclos anovulatórios/irregulares, assincronia entre desenvolvimento folicular e endometrial, entre outros.

  1. Ciclo artificial

Nessa modalidade, nós fornecemos todo o hormônio necessário para o preparo uterino. Inicialmente, fazemos uma reposição de estrogênio e o acompanhamento ultrassonográfico para avaliar o aspecto do endométrio (deve estar idealmente trilaminar) e a espessura endometrial. Posteriormente, acrescentamos a suplementação de progesterona para tornar o endométrio receptivo. O embrião, então, é transferido para o útero após a suplementação de 5 dias completos de progesterona.

As mulheres que se beneficiam desse protocolo são aquelas que têm deficiência de produção hormonal ou que já entraram na menopausa.

Cada um desses protocolos apresentam aspectos positivos e negativos e, dessa forma, devem ser sempre individualizados quanto à escolha do protocolo ideal. Existem, adicionalmente, variações desses protocolos que devem ser consideradas individualmente. Leve suas dúvidas ao médico especialista em reprodução humana e conheça todas as possibilidades, procedimentos e protocolos que podem ser utilizados para aproximar você da realização do sonho de ter um filho. 

Saiba que não há uma receita padronizada para todas as pessoas. Alguns casais têm sucesso ao transferir a fresco, enquanto outros podem receber indicação para a transferência de embriões congelados. Por isso, é fundamental aprofundar a avaliação e individualizar o tratamento para extrair o máximo do potencial de cada casal e maximizar as chances de um resultado positivo.