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Hidrossalpinge

Por Dr. Murilo Oliveira

Assim como os ovários e o útero, as tubas uterinas, também conhecidas como trompas de Falópio, desempenham um importante papel na fertilidade feminina. As alterações tubárias estão entre os principais obstáculos nas tentativas de gravidez, principalmente quando o fator presente é a hidrossalpinge — você já ouviu esse termo antes? Sabe o que significa?

Os fatores tubários estão relacionados a aproximadamente 25% dos casos de infertilidade feminina. A hidrossalpinge é uma condição preocupante, pois pode obstruir a trompa e impedir o encontro dos gametas para a fecundação.

A hidrossalpinge é a dilatação da tuba uterina, decorrente de oclusão distal e consequente acúmulo de líquido intratubário. Pode ocorrer em somente uma trompa ou nas duas. Quando é bilateral, o risco de infertilidade é maior.

As tubas uterinas são dois tubos que se conectam às laterais da parte superior do útero e se estendem por cerca de 10 cm até perto dos ovários. Esses órgãos precisam apresentar boa permeabilidade para cumprir suas funções, que incluem recolher o óvulo e levá-lo para ser fertilizado. A fecundação acontece dentro da trompa e, depois disso, o embrião é transportado para a cavidade uterina com a ajuda da motilidade tubária.

Devido a uma combinação de fatores mecânicos e químicos, a hidrossalpinge altera as funções tubárias. Diante disso, identificar as causas e conhecer as formas de tratamento é um passo necessário para seguir com suas tentativas de gravidez.

Causas de hidrossalpinge

A principal causa de hidrossalpinge é a doença inflamatória pélvica (DIP), uma afecção que pode afetar vários órgãos da pelve feminina simultaneamente. Isso ocorre quando há disseminação de agentes infecciosos, os quais migram do trato genital inferior para o superior.

A DIP é uma doença polimicrobiana. Entre os principais causadores, estão as bactérias responsáveis pelas infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) clamídia e gonorreia. Os processos inflamatórios podem afetar:

  • o colo do útero (cervicite);
  • o endométrio, camada interna do útero (endometrite);
  • as tubas uterinas (salpingite);
  • os ovários (ooforite);
  • o peritônio pélvico (peritonite).

A hidrossalpinge surge como uma sequela da salpingite. Além da obstrução da tuba uterina, a infecção lesiona as paredes do órgão e prejudica sua motilidade — a trompa tem cílios e faz movimentos contráteis para auxiliar na migração dos espermatozoides em direção ao local de fecundação do óvulo, assim como no transporte do embrião para o útero.

Também pode ocorrer a formação de aderências cicatriciais, fazendo as fímbrias se fundirem (prolongamentos da extremidade das tubas). Dessa forma, o líquido intratubário não encontra saída e se acumula dentro da tuba, causando a dilatação.

O acúmulo de tecido cicatricial associado à hidrossalpinge pode ter outras causas além da DIP, incluindo endometriose e cirurgias feitas na tuba uterina ou em órgãos próximos.

Sintomas de hidrossalpinge

A hidrossalpinge não é exatamente uma doença, é uma sequela da salpingite, uma consequência da endometriose ou um resultado adverso de cirurgias pélvicas. Sendo assim, não há sintomas específicos.

Algumas manifestações relatadas pelas pacientes são corrimento vaginal e dor pélvica, que pode ficar mais evidente no período menstrual. Também é possível que a mulher tenha sintomas das doenças que causaram a hidrossalpinge

Recomendamos a procura por avaliação médica diante de qualquer sintoma de alteração ginecológica, pois existem diversas doenças que prejudicam o bem-estar e a fertilidade da mulher. O diagnóstico precoce é sempre útil para evitar o agravamento da situação.

A infertilidade também pode ser um indício de hidrossalpinge. A dificuldade para engravidar, nesses casos, se deve a vários fatores químicos e mecânicos, tais como:

  • obstrução da tuba uterina e alteração da motilidade tubária, aspectos que prejudicam a movimentação dos espermatozoides, o processo de fecundação e o transporte do embrião;
  • falhas na captação do óvulo pela tuba uterina após a ovulação, quando as fímbrias se fecham devido às aderências;
  • vazamento do fluído acumulado na tuba para dentro do útero, líquido tóxico que tem efeito hostil ao processo de implantação do embrião e ao desenvolvimento embrionário inicial;
  • risco aumentado para gravidez ectópica (fora do útero), que não tem condições de evoluir.

Exames para diagnosticar a hidrossalpinge

O diagnóstico de hidrossalpinge é feito com exames de imagem. A ultrassonografia transvaginal é a técnica rotineiramente indicada na avaliação da saúde ginecológica e da fertilidade feminina. Inclusive, durante a investigação baseada na suspeita de outras doenças pélvicas, o problema tubário pode ser revelado.

Outro exame que tem seu papel consolidado na avaliação da permeabilidade tubária é a histerossalpingografia, uma técnica de Raio-X com uso de contraste iodado hidrossolúvel. O objetivo é que o fluído injetado pelo colo do útero continue se espalhando, preencha a cavidade uterina e as trompas até encontrar a saída na altura das fímbrias. Assim, é possível detectar distorções e obstruções.

A videolaparoscopia com cromotubagem também pode ser indicada em alguns casos. Com esse procedimento adicional, um líquido colorido é injetado no canal cervical e podemos ter a visualização direta de sua passagem pelas tubas uterinas, revelando se elas estão desobstruídas.

Análises laboratoriais complementam a avaliação diagnóstica para rastrear os patógenos. Mesmo na ausência de sintomas de inflamação ativa, temos que verificar a presença de bactérias associadas às infecções pélvicas. 

Tratamentos para hidrossalpinge e infertilidade

Diante da hidrossalpinge, temos que considerar tanto a situação da tuba uterina quanto o tratamento da doença que causou essa sequela. Se as análises laboratoriais revelarem que ainda existem agentes infecciosos, a terapia com antibióticos é prescrita. 

Já nos casos de endometriose associada, é preciso fazer uma avaliação aprofundada e individualizada para definir a melhor conduta terapêutica, que pode envolver medicações e cirurgia.

Há duas abordagens de tratamento cirúrgico para hidrossalpinge

  • a salpingostomia é uma alternativa para pacientes que ainda querem engravidar naturalmente. Consiste em remover as partes danificadas e reabrir as fímbrias. No entanto, as taxas de sucesso são baixas e há um risco considerável para gravidez ectópica;
  • a salpingectomia é feita quando o objetivo é a retirada parcial ou total da tuba danificada. Se uma tuba estiver comprometida, a paciente ainda tem chance de engravidar espontaneamente. Caso as duas tubas estejam com a doença, precisamos retirar ambas. Depois disso, a paciente pode realizar uma fertilização in vitro (FIV) para engravidar.

Na FIV, as tubas uterinas não são utilizadas. Os embriões são gerados em laboratório, após a coleta dos óvulos e o preparo dos espermatozoides, e transferidos diretamente para a cavidade do útero.

A hidrossalpinge pode reduzir as chances de sucesso na FIV se não for tratada, visto que o fluído intratubário pode entrar no útero e prejudicar a permanência do embrião. Portanto, a salpingectomia é um procedimento que pode ser feito antes da tentativa de gravidez.

Pensar em diagnosticar uma hidrossalpinge e receber indicação para cirurgia e FIV pode ser assustador nesse momento, não é mesmo? É normal sentir medo de buscar ajuda quando o assunto é fertilidade, mas continuar deixando o tempo passar é ainda mais arriscado. Então, dê o primeiro passo: procure um profissional que faça uma avaliação individualizada e conheça todas as possibilidades para realizar o sonho de ter seu filho nos braços!